Artigo

Artigo - Demétrio Praxedes Araújo

História da Reabilitação Profissional - Síntese

O conteúdo desta matéria, diz respeito à Reabilitação em Geral com ênfase para a Reabilitação Profissional em nosso país, descrita de forma “mais romântica do que técnica”, porém com fundamentação de memória, de registros que poderão ter utilidade para conhecimento, reflexão, ou mesmo emprego prático das referências citadas. Há décadas fala-se em Reabilitação, há séculos a história nos mostra que a Reabilitação “já era protegida pelos Deuses”. O Dr. Alexandre Ângelo Zereu, médico Fisiatra, gaúcho, residente em Porto Alegre, em uma de suas belas palestras sobre Reabilitação, nos“transportou” ao passado longínquo da Grécia e Roma antigas, contando que: ESCULÁPIO denominação romana (ou ASCLÉPIO denominação grega), Deus romano da Medicina e filho de Apolo com Coronis teve entre seus filhos, Panacéia que curava todas as doenças, Hygiea que prevenia doenças, Podalírio clínico e psiquiatra, Macaon cirurgião, e TELÉSFORO (ou EVEMERION) lidava com a convalescença e reabilitação.

Trabalho, doença, cura, incapacidade, convalescença, reabilitação e invalidez, sempre existiram desde os primórdios da espécie humana. Também não há dúvida que a prática da Reabilitação do presente, é muito diferente do passado longínquo, porém o instinto para reabilitar-se das pessoas, certamente é o mesmo, respeitando as devidas proporções temporais, culturais e outras.

Política, Educação e Cultura, são combustíveis de primeiríssima qualidade para destacar com êxito, programas, serviços, processos e estratégias de Trabalho e Reabilitação Profissional. Se não temos boa educação e cultura, não temos bom combustível, o que explica não termos hoje, bom trabalho ou boa Reabilitação Profissional. O Trabalho em visão abrangente de tudo que lhe diz respeito, desde a Lei 3.724 de 15 / 01 / 1919 – 1ª Lei sobre AT, evoluiu muito no Brasil, continua evoluindo, falta-nos política, educação e cultura para que melhor possa estar. A Reabilitação Profissional do Brasil foi a melhor do mundo por três décadas, faltou-nos política, educação e cultura para sustentá-la no patamar e evoluir, como evolui na atualidade, os programas, serviços, processos e políticas estratégicas voltadas ao trabalho. POLÍTICA: política estratégica, vontade política, política específica voltada para..., política técnica / tática, política científica. EDUCAÇÃO: formação de recursos técnicos e humanos, educação específicaà sociedade, aos usuários, educar para acessibilidade, educar para as diferenças, educar para lidar com as incapacidades, programas para educação básica e qualificação profissional.CULTURA: para exercício da cidadania, para mudança de paradigmas, para reconhecer o valor do trabalho como terapia de vida, para desmistificar o trabalho como ação a ser executa por “pessoas normais / sadias” e a Reabilitação por “pessoas inválidas”. DRA. THEREZINHA DE JESUS CORRÊA (ADVOGADA) – autora do trabalho: “EVOLUÇÃO DO SEGURO ACIDENTES DO TRABALHO NO BRASIL – 20/11/1996”

Quem é a Dra. Therezinha de Jesus Corrêa?

Atuante na área de seguros, desde 1953, gerenciou a área jurídica da Piratininga Cia. de Seguros, e o Serviço Jurídico Unificado do Grupo Sul América – Bandeirantes – Unibanco. Organizou em âmbito nacional, o Departamento Jurídico da Porto Seguro Cia. de Seguros Gerais. Ex-Diretora da MAPFRE no Brasil. Membro do Conselho de Administração da Brasil Assistência S.A., empresa do Sistema Internacional de Assistência MAPFRE (SIAM). Conselheira do Grupo de Trabalho de Acidentes de Trabalho da FENASEG. Diretora de Formação e Ensino da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP). Presidente da Seção Brasileira da Associação Internacional de Direito do Seguro. Assessora da Presidência da UNIMED SEGURADORA desde 1993. Dados de 17 de Agosto de 2000, durante o 6º Seminário Nacional UNIMED de Saúde Ocupacional e Acidentes do Trabalho.

LEI 3.724 DE 15 DE JANEIRO DE 1919: Primeira Lei Brasileira sobre Acidentes do Trabalho. O movimento político militar de 1930 reformulou a Lei de acidentes através do Decreto 24.637 de 10 de Julho de 1934, que vigorou até 1944. O grande avanço aconteceu com a promulgação do Dec. Lei 7.036, de 1944 que distinguiu a Doença Profissional, inerente ao exercício de determinadas atividades, da doença decorrente de condições especiais ou excepcionais em que o trabalho era realizado, e introduziu a Readaptação Profissional e a Reabilitação do empregado acidentado, tornando obrigatório o Seguro de Acidentes do Trabalho como garantia do pagamento das indenizações. Estabeleceu a integração gradativa deste seguro na Previdência Social, que até 1953 deveria assumi-lo na plenitude.

“Já havíamos adentrado a década de 60, e a Previdência Social não se aparelhava para funcionar satisfatoriamente. Sua assistência Médica, e extraordinária relevância para a infortunística era caótica, insuficiente e lamentável, tanto quanto o é hoje”.

O artigo completo Abordado pela Dra. Therezinha de Jesus Corrêa é muito mais extenso do que acima mostramos, e versa detalhadamente sobre a evolução do Seguro de Acidentes do Trabalho no Brasil, narrado pela autora em 1996. O objetivo do uso deste fragmento do trabalho da Dra.Therezinha, tem como objetivo, mostrar o nascimento legal, a origem da Reabilitação Profissional em nosso país: Dec. Lei 7.036, de 1944. Paralelamente, serve para nossa reflexão, o último parágrafo da síntese, que se refere à Previdência Social, “adentrando na década de 60, persistindo na década do artigo, 1996”.

mundo do trabalho organizado, há décadas preocupa-se através de suas organizações, com a qualidade do trabalho, com o trabalhador, com as Instituições envolvidas, e com os inevitáveis sinistros, motivo pelo qual a Reabilitação Profissional precisa existir e funcionar. A força desta organização teve maior impulso após a última grande guerra mundial, principalmente. A Organização Internacional Trabalho (O.I.T.), foi fundada em 1919, e o Brasil é signatário da entidade desde 1950.

O. I. T. - RECOMENDAÇÃO 99 (25 / 06 / 1955) - ART. 27: “Sempre que for possível, e observando as recomendações médicas, a Adaptação e a Readaptação Profissional devem começar durante o tratamento médico”.

O. I. T. - RECOMENDAÇÃO 99 (25 / 06 / 1955) - ART. 26.1: “Entre as instituições encarregadas do tratamento médico dos inválidos, e os serviços encarregados da Adaptação e Reabilitação Profissional destes, deve existir a máxima coordenação de suas atividades”.

O. I. T. - CONVÊNIO 159 (20 / 06 / 1983) - ART. 1.2. “Aos efeitos do presente convênio, todo membro deverá considerar que a finalidade da Readaptação Profissional, é a de permitir que a pessoa inválida, obtenha e conserve um emprego adequado, e progrida no mesmo, e que se promova assim, a integração ou a reintegração desta pessoa à sociedade”.

Muitos foram os responsáveis e pioneiros da Reabilitação Profissional no Brasil, que desde a década de 50, planejaram e deram início à obra, que eclodiu na década de 60, por determinação do governo brasileiro. Para representar todos esses desbravadores, destacamos o nome daquele que permanece até hoje como sendo “o pai da Reabilitação Profissional” no Brasil, Dr. Odir Mendes Pereira. Pessoa dinâmica com alto potencial de liderança, grande credibilidade política junto ao Governo da época, foi o responsável-mor pelo grande êxito da Reabilitação Profissional Brasileira. Após seu falecimento, a RP sinalizou fragilidade política, apesar do belo trabalho realizado pela substituta, Fisiatra Dra. Maria Lúcia Carneiro, do Rio de Janeiro, que há anos era seu “braço direito”, e grande conhecedora do assunto.

DR. ODIR MENDES PEREIRA (RJ) - 07/1O/1926:
REUMATOLOGISTA E FISIATRA.
Fonte: Revista Brasileira de Fisiatria – Vol. 2 – Nº 4 – Dezembro de 1973.

950 - Estagiário no Serviço de Fisioterapia da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
1954 - Um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação.
1969 - Presidente da Sociedade de Reumatologia da Guanabara.
1969 - Diretor nacional do Departamento de Reabilitação Profissional do INPS.
08 - 28/10/1971 - Representou o Brasil no Seminário sobre Reabilitação dos Deficientes Mentais, patrocinado pela O.I.T. em Compenhague (Dinm).
1972 - 1973 - Um dos Sócios Fundadores da Academia Brasileira de Medicina de Reabilitação.
1973 - 1976 - Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação(SBMFR).
Sua experiência em Reabilitação Profissional foi adquirida não só em nível acadêmico, mas também em visitas e estágios em Centros de Reabilitação de países estrangeiros: Argentina, Dinamarca, Inglaterra, Portugal, Estados Unidos.

Em 1973, existiam 10 Centros de Reabilitação Profissional no Brasil. Artigo descrito por Dr. Odir Mendes Pereira.
Fonte: Revista Brasileira de Fisiatria – Vol. 3 – Nº 2 – Junho de 1974.
BELO HORIZONTE
BRASÍLIA
CURITIBA
FORTALEZA
NITERÓI
PORTO ALEGRE
RECIFE
RIO DE JANEIRO (NITEROI)
SALVADOR
SÃO PAULO

Em 1973 - 14.581 segurados passaram pelos 10 CRPs.
73,9 % de A.T. e 26,1 % da P.M.
10.682 retornaram ao trabalho.
8.106 retornaram na mesma atividade.
2.576 retornaram em atividades diversas.
80 dias úteis, a permanência média nos CRPs.
CR$ 19, 00 - custo / segurado por cada dia útil.
CR$ 32.549.000,00 - economia bruta em benefícios cessados devido programas de RP.
CR$ 15.449. 000, 00 - despesa total da RP.
CR$ 17.100. 000, 00 - economia líquida da RP.
CR$ 1.503, 00 - custo por segurado que, em 1973 retornou ao trabalho, através da RP.
Em 1976, já existiam 13 Centros de Reabilitação Profissional. No total: 21. !

CENTRO DE REABILITAÇÃO: local de concentração de todos os recursos técnicos, científicos e humanos, para reabilitar portadores de incapacidades. Esta simples conceituação praticamente universal, diz tudo sobre como FAZER REABILITAÇÃO, quer seja física, sensorial ou profissional. É indispensável que haja local adequado, recursos disponíveis, e usuários. Não há segredos ou mistérios para bem Reabilitar! O planejamento da Reabilitação Profissional foi tão eficiente, que sua execução já em 1972, causava euforia e otimismo aos gerenciadores do programa. Fonte: Revista Brasileira de Fisiatria – Vol. I – Nº 3 – Dezembro de 1972. Artigo publicado na Revista por Dr. Odir Mendes Pereira – página 137: “A Reabilitação Profissional no Brasil - seus planos de expansão e suas vantagens”. No artigo, onde o autor comenta sobre os CRPs existentes na época, e os resultados de alguns, na página 143 faz o comentário: “ Há tempos atrás, um Presidente do INPS disse [- Eu tenho absoluta certeza de que dentro de alguns anos o INPS será só Reabilitação Profissional, porque ela é a função precípua da Previdência Social -]”.

Em 1979 destaca-se no contexto da Reabilitação Profissional, o Dr. Arlindo Casarin: Médico pediatra, especialista em Saúde Pública, com mestrado em Administração, Pós graduação em estatística, planejamento e desenvolvimento econômico. Chefe da Secretaria de Serviços Previdenciários do INPS. O destaque do Dr. Arlindo Casarin, deveu-se também ao trabalho que realizou em 1979, culminando com sua publicação em livro (brochado) de 91 páginas, intitulado: “AVALIAÇÃO DE BENEFÍCIO E DE CUSTO NA REABILITAÇÃO PROFISSIONAL DO INPS ”. O trabalho publicado com conhecimento de causa, consultas e experiências obtidas no exterior, continua atualizado, é obra prima provando que a Reabilitação Profissionalé lucrativa do ponto de vista social e financeiro, fato também reconhecido por Europeus, Americanos e Orientais, sem que até hoje, alguém jamais provasse o contrário. Chama atenção no trabalho, na primeira página, a apresentação descrita pelo então Ministro da Previdência Social, Jair Soares. Outro aspecto na página 2, Dr. Arlindo Casarin faz agradecimentos a dezoito (18) Colaboradores, listando-os com o seguinte comentário: “Ao citá-los nominalmente, somos gratos pela colaboração que nos prestaram e lhes tributamos os méritos deste trabalho”. Entre os colaboradores citados, encontram-se o conceituado Dr. Baldur Oscar Schubert, profundo conhecedor do que é pertinente à Previdência Social, em franca atividade laborativa, atualmente representante do Brasil na Organização Ibero-americana de Seguridade Social (OISS), e colaborador participante na coordenação dos eventos do CBSSI. Outro citado, o Dr. Odir Mendes Pereira, a “figura-mor” da Reabilitação Profissional. Destaco também na listagem, o Fisiatra Dr. Raymundo Édson de Araújo Leitão, pessoa muito importante para a Fisiatria Brasileira, um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (SBMFR), professor da UFRJ, foi assessor do Departamento de Reabilitação do INPS do Rio de Janeiro, também um dos pioneiros da Reabilitação Profissional. Descrevo alguns tópicos de destaque do documento elaborado por Dr. Arlindo Casarin, entre os tantos que existem na obra:

1. “A REABILITAÇÃO É UM CONJUNTO DE AÇÕES DE NÍVEL ELEVADO NA ESCALA DE BARREIRAS QUE PODEM SER OPOSTAS À MARCHA DA DOENÇA. EM ÚLTIMA ANÁLISE, A REABILITAÇÃO PROFISSIONAL PODE TRANSFORMAR O INCAPACITADO, DE HOMEM CONSUMO EM HOMEM RENDIMENTO. A REABILITAÇÃO PROFISSIONAL NO INPS, NOS MOLDES ATUAIS, ATINGE SEUS OBJETIVOS ?”

2. “SEGURADO EM BENEFÍCIO ONERA SEGURADORAS. REABILITAÇÃO PROFISSIONAL DESONERA”.

3. “TRÊS HIPÓTESES PODEM À PRIORI SER ADMITIDAS, SOBRE A REABILITAÇÃO PROFISSIONAL
A - A R.P. DÁ PREJUÍZO DO PONTO DE VISTA ECONÔMICO.
B - A R.P. É AUTOSUSTENTÁVEL, ISTO É, ESTÁ AO PAR, SEM DÉFICIT E SEM SUPERAVIT.
C - A R.P. É SUPERAVITÁRIA”.

4. “SER MODIFICADA. NÃO É ADMISSÍVEL QUE SEJA UM FATOR A LEVAR A DESEQUILÍBRIO A PREVIDÊNCIA SOCIAL EM TERMOS ECONÔMICOS, EMBORA POSSA SER EM TERMOS SOCIAIS. SUA MANUTENÇÃO OU EXPANSÃO CUIDADOSA, NÃO PREJUDICARÁ FINANCEIRAMENTE A PREVIDÊNCIA SOCIAL, E CONTRIBUIRÁ SOCIALMENTE. SER EXPANDIDA PLANEJADAMENTE, EM ECONOMIA DE ESCALA, POIS REPRESENTARÁ RECEITA PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL, ALÉM DE EFEITO POLÍTICO SOCIAL POSITIVO SOBRE SEGURADOS E SUAS FAMÍLIAS”.

5. “O CUSTO DO REABILITADO É ELEVADO, SE COMPARADO COM O REABILITADO NORTE-AMERICANO. A R.P É SUPERAVITÁRIA A MÉDIO PRAZO (5 ANOS) E MUITO MAIS A LONGO PRAZO (16 ANOS). A MÉDIO PRAZO, PARA CADA CRUZEIRO INVESTIDO, O SEGURADO DEVOLVE CR$ 2,97 (DOIS CRUZEIROS E NOVENTA E SETE CENTAVOS), FICANDO SALDO DE CR$ 1,97”.

6. “SEGUNDO RUSK , O NÚMERO DE PESSOAS REABILITADAS E EMPREGADAS PELO PROGRAMA FEDERAL DOS ESTADOS UNIDOS, FOI DE 55.825 EM 1954, ATINGINDO 250.000 PESSOAS EM 1970. FICOU PROVADO SUFICIENTEMENTE QUE CADA DÓLAR GASTO EM REABILITAÇÃO PROFISSIONAL, CINCO DÓLARES RETORNARAM ATRAVÉS DO TRABALHADOR INCAPACITADO, EM TAXAS E IMPOSTOS FEDERAIS, SOMENTE NOS PRIMEIROS CINCO ANOS DO SEU EMPREGO, APÓS A REABILITAÇÃO“.

O Dr. Howard A. Rusk foi Chefe do Serviço de Reabilitação da Universidade de New York.

7. “A COLOCAÇÃO OBRIGATÓRIA DO INCAPACITADO, POR FORÇA DE LEI, NÃO SERIA REABILITAÇÃO, MAS, NO MÁXIMO, CARIDADE“.

8. “O SEGURADO RECEBENDO AUXÍLIO DOENÇA, FORA DO PROCESSO DE REABILITAÇÃO, ONERA A PREVID~ENCIA SOCIAL. NÃO ONERA A REABILITAÇÃO PROFISSIONAL“.

Aproveito a oportunidade para comentários particulares e de experiência, de quem teve o privilégio de ingressar no Centro de Reabilitação do INSS de Belo Horizonte em outubro de 1975. Naquele momento, como R2 de Fisiatria do Hospital Arapiara, na época um conceituado Hospital de Reabilitação, cuja Equipe de Preceptores e Administradores fazia parte da elite ativa da Reabilitação do país, Dr. Márcio de Lima Castro, Dr. Gilberto de Almeida Fonseca, Dr. Theobaldo Rodrigues de Oliveira, Dr. Armando Pereira Carneiro, Dr. Delcides de Oliveira Baungratz, reconheci que meus conhecimentos sobre Reabilitação plena seriam complementados dentro do CRP. Com poucos meses de trabalho e com o ótimo embasamento adquirido no Hospital Arapiara durante o período da Residência médica em Fisiatria, que encerrei em Dezembro de 1975, percebi ser “mais especializado” na especialidade que escolhera. Percebi também, que naquele CRP, todos que ali trabalhavam, eram especialistas em Reabilitação Profissional, cada um em suas áreas de atuação, mas eram especialistas. Talvez, ou certamente, aquela estrutura tinha que proporcionar resultados, tinha que dar certo, tinha que gerar lucro financeiro e social. Reabilitação Profissional, tem que ser realizada em local adequado, com recursos técnicos e humanos apropriados e qualificados. Para que tenhamos idéia, no CRP de Belo Horizonte, éramos nove (9) Médicos Fisiatras, além de Equipe multiprofissional completa.!

Na atualidade, onde alguém vai aprender Reabilitação Profissional ?
Com olhar crítico, vejo a Reabilitação Profissional no Brasil distribuída por décadas:
PLANEJAMENTO – décadas de 50 - 60.
INÍCIO – décadas de 60 - 70.
EVOLUÇÃO E AUGE – décadas de 70 - 80 - 90.
DECADÊNCIA – 90 - 00.

A Reabilitação em Geral incluindo a Reabilitação Profissional, passa por período de “carência de credibilidade e sustentabilidade”, que deverá certamente em breve, ser preocupação séria do ponto de vista político-social, por parte dos órgãos públicos principalmente. Assim afirmo, porque o que sentimos hoje na Reabilitação Profissional, não é diferente do que ocorre na Reabilitação Física ou Sensorial. Leitos e Serviços Ambulatórias no país, são insuficientes e limitados em preparo técnico e humano especializado, para atender a demanda oriunda da sociedade em geral. A Pessoa com Deficiência (PCD) de qualquer natureza em nosso país, tende em aumentar, conforme pronunciamentos dos estudiosos no assunto, largamente comentados nos meios especializados e mídia. Lembro a divulgação do IBGE no censo 2000:

PERFIL DEMOGRÁFICO DAS DEFICIÊNCIAS NO BRASIL
TIPIFICAÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS * I.B.G.E.: CENSO 2000
POPULAÇÃO : 169.872.856
PELO MENOS UMA DEFICIÊNCIA : 24.600.256
REPRESENTAÇÃO : 14,48 %
MAIOR PROPORÇÃO : NORDESTE
MENOR PROPORÇÃO : SUDESTE

Para concluir esta apresentação, registro dados retirados da fonte:

“MINISTÉRIO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL
INSTITUTO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL / SECRETARIA DE BEM ESTAR
REABILITAÇÃO PROFISSIONAL (NORMAS TÉCNICAS)
“A EQUIPE DE REABILITAÇÃO” – VOLUME II / ABRIL DE 1972”

Este boletim com 63 páginas, publicado em 04/1972, quando o Presidente do INPS era o Dr. Kleber Gallart, eram os assessores médicos da RP, Dr. Odir Mendes Pereira e Dr.Rymundo Édson de Araújo Leitão; e assessores do Serviço Social, Leila Maria Vieira Bugalho e Ilka de Almeida Santos. Trata-se de normas técnicas definidas aos profissionais técnicos da Equipe de Reabilitação, e outros assuntos. Contém neste volume, as normas técnicas para: enfermeiro, técnico em prótese e órtese, terapeuta da palavra, professor de ofícios, professor de ensino básico, e o Fluxograma do Processo de Reabilitação nos CRPs.

“Os primeiros Centros de Reabilitação Profissional foram implantados, obedecendo-se a uma prévia pesquisa, na qual os critérios básicos para escolha das localidades onde se deveria ou se poderia criá-los, foram os seguintes”:
1 Número de beneficiários da Previdência Social, que justificasse a criação do serviço.
2. Número de segurados circunvizinhos a convergir ao CRP, pela proximidade ou facilidade de transporte, sem caracterizar tratamento fora do domicílio.
3. Condições de arrecadação da localidade, que propiciassem a execução do programa em bases econômicas.
4. Existência de pessoal técnico da equipe de reabilitação, nos respectivos mercados de trabalho.
5. Existência na comunidade de recursos no plano universitário, para a formação desses técnicos e, no plano assistencial, para utilização da complementação dos programas. Os Centros de Reabilitação foram classificados segundo a capacidade de clientes/ dia, em tipos “A” (atendimento superior a 700 clientes / dia), “B” (atendimento até 700 clientes / dia), “C” (que seriam os núcleos que preparados para funcionar nas diversas localidades).

ANO DE 2001 - “R E A B I L I T A”.
O Reabilita nos foi apresentado no INSS em 2000, para conhecimento / discussões do que seria o programa. Para tomarmos ciência. Consta na primeira página do documento, com título: NOVO MODELO DE REABILITAÇÃO PROFISSIONAL, e o quê prevê. Descrevo o conteúdo da página.

“ O Novo modelo de Reabilitação Profissional prevê:”

• Descentralização do serviço de Reabilitação Profissional.
• Ampliação da rede de atendimento.
• Otimização de recursos.
• Racionalização do tempo de programa e de custos.
• Maior abrangência da clientela.
• Atendimento preferencialmente no local do domicílio do segurado.
• Integração da Reabilitação Profissional com a Perícia Médica, bem como com os demais Serviços da Previdência Social.

PREVIDÊNCIA SOCIAL - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL BRASÍLIA - MAIO DE 2001 PROPOSTA PARA O NOVO MODELO DE REABILITAÇÃO PROFISSIONAL:

“À REABILITAÇÃO PROFISSIONAL, SERVIÇO PRESTADO PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL, ACOMPANHANDO O MOMENTO ATUAL DE MODERNIZAÇÀO, CABE ATUALIZAR SUA FORMA DE ATUAÇÃO PARA ALCANÇAR COM EFICIÊNCIA E EFICÁCIA OS OBJETIVOS PROPOSTOS, BUSCANDO INCESSANTEMENTE A RACIONALIZAÇÃO DE SEUS CUSTOS, A AMPLIAÇÃO DA REDE DE ATENDIMENTO E A MELHORIA DA QUALIDADE DE SEU SERVIÇO. PARA TAL, URGE A CONTINUIDADE DE SEU PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO, AGORA PARA AS AGÊNCIAS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - APS, CONCOMITANTEMENTE A AGILIZAÇÃO DE PARCERIAS COM EMPRESAS E ENTIDADES SOCIAIS ”. (REABILITA).

O “Reabilita”, ainda é muito jovem, está bem fresco em nossas memórias, não tem “história” a ser contada por enquanto. Aguardemos! A própria “marca” do Reabilita, de “um novo modelo de RP”, reconhece que o serviço / modelo inicial foi construído, que um serviço / modelo de desconstrução foi realizado, todos aguardamos o serviço / modelo de reconstrução para ter histórias a contar!

Demétrio Praxedes Araújo - CRM MG: 7438
Membro Titular da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (Fisiatria)
Médico Fisiatra do Corpo Clínico do Hospital Arapiara - BH-MG
Especialização em Reabilitação de Amputados (Oviedo – Espanha)
Médico Perito do INSS – BH-MG
Membro do Comitê de Ajudas Técnicas (SEDH / CORDE)

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